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Gutenberg e a Ortografia como Bem Universal
Mesmo com a evolução tecnológica e com a Internet, a ortografia mantém seu objetivo original: facilitar a comunicação. Publicado em Sun Aug 19 13:33:00 UTC 2007 - Edição 463
Com um pouco de imaginação e de conhecimento histórico, é de se supor que a escrita, embora nascida para servir à contabilidade e ao comércio, tenha logo adquirido um sentido mais amplo e, sobretudo, de comunicação. É de se supor, muito realisticamente, que a comunicação, desde logo, tenha promovido sua exigência de clareza e, com o tempo, de recursos estéticos. Assim, é importante constatar que vem de muito tempo, bem antes de Gutenberg, a necessidade de uniformizar a grafia em prol da comunicação universal.
A rigor, o — digamos assim — salto qualitativo e revolucionário de Gutenberg foi, na verdade, radicalizar uma tendência preexistente, uniformizando como nunca antes a grafia das palavras. Esse ovo de Colombo do hoje mais famoso dos ourives foi, como se sabe, germinal, criando as condições para uma renovação profunda no trato com a palavra escrita. As tendências particularizantes foram assim sufocadas pelo universalismo que a imprensa recém-criada propiciou. Hoje, quando pensamos em ortografia e programação visual, mal imaginamos o quanto devemos a Gutenberg. Foi com sua uniformização que a escrita tornou-se mais franca, mais comunicativa e mais universal. Como escreveu McLuhan, Gutenberg nos deu um olho no lugar de um ouvido, hipertrofiando a visão, tanto para o bem quanto para o mal.
Ao fixar a palavra com sua prensa e registrá-la sob determinada forma, Gutenberg deu-nos uma espécie de metro com que medir e comparar e, assim, aproximou ainda mais os homens de diversas línguas e regiões, além, claro, de dotá-los de uma técnica material tão simples quanto eficaz. Daí por diante, por um efeito dialético, também os erros, as falhas, as imprecisões e inadequações como que se tornaram mais visíveis. Qualquer senão e deslize da padronização — já agora tanto visual quanto gramatical —, o olho e a expectativa do leitor passaram a sentir e registrar com maior intensidade. A propósito, no Quixote, Cervantes nos lembra que os defeitos das obras impressas são mais vistos porque elas são lidas com mais vagar. Embora isso valha para publicações em papel, hoje já não se pode dizer o mesmo da Internet, cujo processo de leitura é diferente e com novas características. Apesar disso — enfatize-se —, o padrão gutenberguiano continua a prevalecer, ou seja, a uniformização dos caracteres e das fontes.
Em síntese, nada indica que a ortografia, com sua conseqüente pressão pela uniformidade e seu objetivo universalizante, desaparecerá. Pelo contrário, à primitiva arte gráfica dos velhos impressores veio se somar uma avançada tecnologia que tem o mesmo sentido e a mesma característica: ser um bem voltado à acessibilidade e à participação de todos. É como se ela, a ortografia, fosse uma metalinguagem absolutamente franca a servir, a um só tempo, a novos padrões de estética, de comunicação e de serviço à humanidade. Assim, mais do que nunca, com a chegada da Internet, a ortografia, em seu sentido mais radical — de ser o padrão correto (do grego, orthós) e único da escrita —, intensifica a sua função de fazer com que todos se comuniquem com facilidade, rapidez e clareza.
A rigor, o — digamos assim — salto qualitativo e revolucionário de Gutenberg foi, na verdade, radicalizar uma tendência preexistente, uniformizando como nunca antes a grafia das palavras. Esse ovo de Colombo do hoje mais famoso dos ourives foi, como se sabe, germinal, criando as condições para uma renovação profunda no trato com a palavra escrita. As tendências particularizantes foram assim sufocadas pelo universalismo que a imprensa recém-criada propiciou. Hoje, quando pensamos em ortografia e programação visual, mal imaginamos o quanto devemos a Gutenberg. Foi com sua uniformização que a escrita tornou-se mais franca, mais comunicativa e mais universal. Como escreveu McLuhan, Gutenberg nos deu um olho no lugar de um ouvido, hipertrofiando a visão, tanto para o bem quanto para o mal.
Ao fixar a palavra com sua prensa e registrá-la sob determinada forma, Gutenberg deu-nos uma espécie de metro com que medir e comparar e, assim, aproximou ainda mais os homens de diversas línguas e regiões, além, claro, de dotá-los de uma técnica material tão simples quanto eficaz. Daí por diante, por um efeito dialético, também os erros, as falhas, as imprecisões e inadequações como que se tornaram mais visíveis. Qualquer senão e deslize da padronização — já agora tanto visual quanto gramatical —, o olho e a expectativa do leitor passaram a sentir e registrar com maior intensidade. A propósito, no Quixote, Cervantes nos lembra que os defeitos das obras impressas são mais vistos porque elas são lidas com mais vagar. Embora isso valha para publicações em papel, hoje já não se pode dizer o mesmo da Internet, cujo processo de leitura é diferente e com novas características. Apesar disso — enfatize-se —, o padrão gutenberguiano continua a prevalecer, ou seja, a uniformização dos caracteres e das fontes.
Em síntese, nada indica que a ortografia, com sua conseqüente pressão pela uniformidade e seu objetivo universalizante, desaparecerá. Pelo contrário, à primitiva arte gráfica dos velhos impressores veio se somar uma avançada tecnologia que tem o mesmo sentido e a mesma característica: ser um bem voltado à acessibilidade e à participação de todos. É como se ela, a ortografia, fosse uma metalinguagem absolutamente franca a servir, a um só tempo, a novos padrões de estética, de comunicação e de serviço à humanidade. Assim, mais do que nunca, com a chegada da Internet, a ortografia, em seu sentido mais radical — de ser o padrão correto (do grego, orthós) e único da escrita —, intensifica a sua função de fazer com que todos se comuniquem com facilidade, rapidez e clareza.