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Informática, uma Disciplina Cruel?

Em qualquer disciplina, quem não se atualiza fica fossilizado. O que assusta na Informática é a velocidade com que isso ocorre.
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Publicado em Sun Sep 10 16:30:00 UTC 2006 - Edição 414
Em visita a uma faculdade de Direito, Engenharia ou Arquitetura, você certamente encontrará professores com vinte ou mais anos de magistério, muitos deles discorrendo sobre os mesmos assuntos há décadas. Em Direito, o Direito Romano; em Engenharia, o Cálculo Estrutural, e assim por diante. Em Informática, entretanto, o cenário é bem diferente. O que se ensinava há dez anos não tem mais o menor sentido de ser repassado nas salas de aula. Qual a utilidade de ensinar a um aluno, hoje, as linguagens Cobol, Basic ou Fortran? Mesmo que muitas empresas ainda utilizem programas nessas linguagens, elas não despertam praticamente nenhum interesse nos estudantes.

Assim como o computador, que, em pouco mais de um ano, fica antiquado — não suportando o tamanho de um novo programa ou jogo —, também o profissional de Informática que não se atualiza mercado. É certo que, em qualquer disciplina, quem não se atualiza fica fossilizado. O que assusta na Informática é que isso ocorre com uma velocidade muito maior que no Direito, na Engenharia, na Arquitetura.

Tomemos como exemplo o caso do Windows. Quando surgiu, seu funcionamento era restrito a aplicações departamentais, suportando quase que apenas planilhas eletrônicas e editores de texto. Depois, passou a ser a base tecnológica exigida para todos os sistemas da empresa (contabilidade, folha, faturamento, etc.), tornando obsoletos os programas tradicionais — herméticos, escondidos e até abstratos para quem não fosse do ramo — dos famosos mainframes e minicomputadores, que ainda rodam por aí em muitas empresas.

Pois bem, apesar desta revolução ter pouco mais de uma década, o próprio Windows já está em xeque. A nova exigência são os qualquer ponto do planeta, a qualquer momento.

E como ficam os técnicos? Para os que aceitam o desafio de se atualizar permanentemente, o cenário é ótimo: há um enorme mercado sedento de novas soluções. Mas a tarefa não é fácil. Diz-se no meio de Informática que Deus fez o mundo em sete dias porque não tinha clientes nem base instalada. Descontrações à parte, muitos técnicos acabam não conseguindo se atualizar, restando a eles cuidar de sistemas antigos. Isso não é, necessariamente, uma tarefa ruim ou mal remunerada. Os EUA e a Europa, por exemplo, estão recrutando, e pagando bem, programadores de Cobol e outras linguagens tão antigas quanto.

O fato é que as próprias empresas estão mais exigentes, até porque, a reboque das facilidades que oferece, o Windows provocou uma revolução subjacente, nem sempre percebida por alguns. O Windows inaugurou a era em que o usuário passou a decidir a tecnologia de sistemas a ser usada na empresa, o que, para o técnico de Informática (o antigo gerente de CPD), foi duro de assimilar, pois ele foi obrigado a abrir mão do poder soberano e até sacralizado que até então detinha. Mais difícil ainda foi ter de repassar esse poder exatamente para aquele que sempre foi considerado seu "inimigo histórico" na organização: o usuário do programa de computador. Agora que se avizinha a nova onda dos sistemas Web, o trauma causado pelo Windows é só lembrança. E a decisão está onde sempre deveria estar ou onde invariavelmente estaria um dia: nas mãos do usuário.

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