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A Sobrevivência da Escrita no Oceano da Web
Ele previu as conseqüências profundas da era eletrônica que, em meados do século 20, começaram a se desenhar. Publicado em Sun Aug 13 16:51:00 UTC 2006 - Edição 411
A poderosa intuição de McLuhan tornou-o, como se sabe, um profeta da Comunicação. Desconheço especialista da área que não o reverencie. Conheço apenas quem o tenha lido mal ou apressadamente. Como profeta — como diria Nelson Rodrigues —, viu o óbvio. E o que viu? As conseqüências profundas da era eletrônica que, em meados do século 20, começaram a se desenhar. Viu impactos que outros estudiosos — como Peter Drucker, Pierre Lévy e Manuel Castells — terminariam, mais tarde, por analisar mais detidamente, tanto do ponto de vista da gestão quanto do da sociologia e da cultura.
Para McLuhan, uma das grandes questões que o intrigava era a falta de análise dos meios de comunicação que há séculos vinham moldando o comportamento humano. Dentre estes, com destaque, a própria escrita e, junto com ela, a imprensa nascida com Gutenberg. A "naturalidade" da imprensa o intrigava. A imprensa até ele era uma espécie de cena dominantemente invisível. Com suas metáforas incisivas e suas observações compactas, o profeta puxava o fio de uma meada que o etnocentrismo ocidental como que ocultava de si mesmo. A televisão, o rádio, o cinema e, por último, o computador anunciavam, cada um a seu modo, um novo tempo em que o universo das letras e da tipografia — a "Galáxia de Gutenberg" — seria deslocado de sua exclusividade.
McLuhan, mais do que ninguém, percebeu o pânico (inevitável!) dos letrados e dos livrescos. Ele próprio, no entanto, era um letrado, um professor de Literatura, um especialista, aliás, descobrindo nas próprias obras clássicas — a exemplo da de Shakespeare — os sinais antecipadores da era midiática em que vivemos. Muitos, equivocadamente, viram em suas palavras uma defesa ingênua dos novos tempos, o que ele, McLuhan, rechaçava, afirmando até que, em muitos aspectos, ele era contra o que estava comentando!
Hoje, passado quase meio século de suas análises, o profeta é mais atual do que nunca. Mais seminal do que sempre. Ao contrário da propalada "morte de Gutenberg", o que existe de fato é um rearranjo de sua galáxia frente ao advento da "aldeia global" prevista por McLuhan. A oralidade e a escrita conversam mais intensa e complexamente. A imprensa, como se pode observar todos os dias na Web, remodela-se e repensa-se adquirindo novas e insuspeitadas formas. A universalidade do molde gutenberguiano ainda faz do olhar um sentido dominante. A ortografia, em seu sentido etimológico e amplo, continua valendo, não por qualquer fetiche especial ou capricho filológico, mas por ser franca, útil e prática. Os livros, por sua vez, também adquiriram ousados sentidos e cumprem novas funções. Além disso, outros gêneros textuais nasceram ou estão nascendo. A própria Web, em seu oceano, nos reserva imensos mares gutenberguianos, onde, se não nos comunicarmos bem e com clareza, podemos solitariamente naufragar.
Para McLuhan, uma das grandes questões que o intrigava era a falta de análise dos meios de comunicação que há séculos vinham moldando o comportamento humano. Dentre estes, com destaque, a própria escrita e, junto com ela, a imprensa nascida com Gutenberg. A "naturalidade" da imprensa o intrigava. A imprensa até ele era uma espécie de cena dominantemente invisível. Com suas metáforas incisivas e suas observações compactas, o profeta puxava o fio de uma meada que o etnocentrismo ocidental como que ocultava de si mesmo. A televisão, o rádio, o cinema e, por último, o computador anunciavam, cada um a seu modo, um novo tempo em que o universo das letras e da tipografia — a "Galáxia de Gutenberg" — seria deslocado de sua exclusividade.
McLuhan, mais do que ninguém, percebeu o pânico (inevitável!) dos letrados e dos livrescos. Ele próprio, no entanto, era um letrado, um professor de Literatura, um especialista, aliás, descobrindo nas próprias obras clássicas — a exemplo da de Shakespeare — os sinais antecipadores da era midiática em que vivemos. Muitos, equivocadamente, viram em suas palavras uma defesa ingênua dos novos tempos, o que ele, McLuhan, rechaçava, afirmando até que, em muitos aspectos, ele era contra o que estava comentando!
Hoje, passado quase meio século de suas análises, o profeta é mais atual do que nunca. Mais seminal do que sempre. Ao contrário da propalada "morte de Gutenberg", o que existe de fato é um rearranjo de sua galáxia frente ao advento da "aldeia global" prevista por McLuhan. A oralidade e a escrita conversam mais intensa e complexamente. A imprensa, como se pode observar todos os dias na Web, remodela-se e repensa-se adquirindo novas e insuspeitadas formas. A universalidade do molde gutenberguiano ainda faz do olhar um sentido dominante. A ortografia, em seu sentido etimológico e amplo, continua valendo, não por qualquer fetiche especial ou capricho filológico, mas por ser franca, útil e prática. Os livros, por sua vez, também adquiriram ousados sentidos e cumprem novas funções. Além disso, outros gêneros textuais nasceram ou estão nascendo. A própria Web, em seu oceano, nos reserva imensos mares gutenberguianos, onde, se não nos comunicarmos bem e com clareza, podemos solitariamente naufragar.