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|Gestão de Negócios - Dicas Financeiras - Sérgio Ferreira

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E o ouro continua com valor...

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Publicado em Thu Feb 06 17:25:00 UTC 2020 -

 Riqueza e poder sempre caminham associados. Por essa razão a família real de um país, além do poder governamental, detém riqueza material. No mundo ocidental a maior expressão dessa fortuna é o ouro, tanto que quando Jesus nasceu, ele foi presenteado com ouro, incenso e mirra, respectivamente símbolos de riqueza, espiritualidade e imortalidade profética. 

Desses três símbolos o incenso perdeu valor, pois sua fumaça e cheiro, desde muito tempo, são obtidos sem dificuldade. Também a mirra deixou de ser valorizada, considerando que servia para embalsamar e dar mais vida aos reis e profetas, preparando-os para o futuro – constatou-se que nenhuma múmia conseguiu renascer. Então, como símbolo de valor desde a antiguidade ocidental resta tão somente o ouro.
Interessante essa permanência do ouro, haja vista que ele materialmente perdeu competitividade, a não ser para a confecção das melhores joias. De fato, suas importantes propriedades físicas, como resistência à oxidação, condutibilidade, maleabilidade e alto brilho, atualmente são percebidas com vantagens em outros materiais tecnologicamente mais competitivos. Adicionalmente os regimes monárquicos, que tinham sua força associada a Deus, logo divindade tanto no poder político como no econômico, em sua maioria foram substituídos pelas repúblicas, um processo marcado pela Revolução Francesa de 1789.
O mundo desde então, nos últimos 230 anos, mudou radicalmente, com o poder político transferido para presidentes eleitos ou ditadores, sem respaldo “divino”. Houve uma quebra das tradições, inclusive da força da Igreja. Porém a associação do poder político com o econômico continua com o ouro, mesmo que oficialmente esse metal, desde 1971 e por meio de um simples ato do presidente Richard Nixon, tenha deixado de ser referência para o mercado monetário (foi quando o dólar abandonou a possibilidade de troca da moeda por determinada quantidade do metal). Também faz tempo que uma coroa de ouro na cabeça de um homo sapiens deixou de ser importante para transmitir poder político (até quando resistirá a Inglaterra?). 
Numa cultura que se torna cada vez mais prática e objetiva, que vai transferindo a vontade de posse para o desejo de uso (em vez de propriedade material, o gozo obtido pelas sensações), faz sentido o ouro permanecer como reserva de valor? Seria uma questão de tempo a consciência da sua fragilidade enquanto bem econômico? Ou o ouro tem valor independentemente das mudanças culturais? Aqui um fato: as avançadas culturas que floresciam no atual México não valorizavam o ouro, até a chegada dos espanhóis. Em todo caso, é importante ter em mente que o valor e o preço dos bens e serviços são dados pela cultura, os costumes de um povo, e pelo mercado. 
Também aqui não é ocioso lembrar o surgimento relativamente recente da Internet, permitindo o armazenamento e transferência de informações em grande escala. Nesse sentido, as empresas que trabalham com dados (Microsoft, Google, Facebook etc.) passaram a valer mais do que aquelas que atuam no mundo material, logo, os bens intangíveis têm adquirido mais valor que os tangíveis. Será que a sociedade vem mudando seus conceitos? Nesse sentido: para que servirá o ouro? Hoje o que importa mais numa joia: a assinatura de um designer famoso ou o seu peso relativo em ouro? Caminha para no futuro ser percebido como mais valor: uma barra de ouro ou o preço hoje equivalente a um lote de ações ofertadas na bolsa de valores Nasdaq?
Entretanto, de todo modo, quando o mundo econômico se vê sem rumo, como está contemporaneamente, se volta para o ouro, haja vista as volumosas compras desse metal que os bancos centrais, principalmente da China e da Rússia, têm realizado ultimamente. Será isso fruto da inércia do pensamento econômico, conforto psicológico para desesperados ou mera tradição?
Ou será que o fato do nobre metal continuar com majestade, numa época de transações financeiras feitas eletrônica e virtualmente, não mais necessitando de moeda ou papel, é porque o ouro tem mesmo algo de divino e espiritual?... Parece inexplicável tanta confiança, a não ser de forma tautológica, pelo fato dessa própria confiança ser o atributo básico das relações econômicas. Em outra perspectiva, as nascentes criptomoedas ainda estão longe de transmitir confiança. 
 

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