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O "Resgate" do Idioma Português no Mundo das Empresas
Publicado em Sun Dec 11 14:23:00 UTC 2005 - Edição 376
O domínio do inglês (aliás, mais raro do que se pensa) e de quaisquer outras línguas traz um inquestionável enriquecimento profissional a quem quer que o possua. No mundo corporativo, como nos demais campos da atividade humana, o inglês, neste início de século, tornou-se uma língua franca. Isso é o óbvio. Por outro lado, nem sempre óbvio é o competente domínio da língua materna, cuja precedência responde, como é natural, pelo à-vontade do pensamento, do raciocínio, da expressão.
No caso do Brasil, o mau inglês tornou-se tão banal quanto o mau português, com a diferença de que aquele é mais perdoável e compreensível do que este. Se o mau inglês já é um ganho para muitos, por que um bom português não seria um belo diferencial para outros? Infelizmente, a percepção generalizada do português é a de que seria uma “língua difícil”, quando comparada ao inglês. Pura bobagem. O imaginário relativo ao português precisa ser urgentemente mudado, e muitos lingüistas, com estudos sérios, têm contribuído para isso. Ao contrário do que se pensa, o português nada tem de exótico ou complicado. A óptica está equivocada, embora tenha muitas raízes e razões. Históricas, pedagógicas, mentais. Entre muitas outras, há o mito do poliglota como um ser excepcionalmente dotado, o que não corresponde aos fatos. Ironicamente, quase sempre, os poliglotas nacionais fazem muito pouco com o potencial de que dispõem. São raros os Guimarães Rosas. Enquanto as borboletas passeiam, as abelhas e as formigas vão ao ponto.
Mitos e percepções equivocadas à parte, o fato é que inúmeras empresas estão despertando para o uso claro e correto do português. Nem sempre, na minha opinião, com os remédios mais proveitosos e eficazes. A razão é evidente: comunicação eficaz e língua devem andar juntas, indissociadas. Com o advento da Web e do próprio emaranhado de sua multipolaridade, a escrita se revigora e se amplia enormemente. Ocorre que nem tudo o que é escrito é necessariamente legível. Na verdade, o que se busca, nesse “retorno” à língua materna, é exatamente a legibilidade “perdida”. Sem o resgate da informação, não há, propriamente, informação nenhuma. Perde-se tempo e dinheiro, e nada se transmite ou se compartilha. É nesse contexto que o português volta a ser uma prioridade, sobretudo para determinadas funções e profissões. Chega-se à óbvia conclusão de que nem tudo pode ser reduzido à comunicação oral. Mas, ao falar assim, “nem tudo pode ser reduzido à comunicação oral”, corro o risco de sugerir uma simplificação grosseira, pois a conversação é tão essencial quanto a escrita às performances profissionais e corporativas. Não por acaso, quanto mais se ascende profissionalmente — como observou o historiador Theodore Zeldin —, mais precisamos conversar. Assim também parece ocorrer com a escrita — que, além de ser um privilégio, é uma necessidade e um instrumento de trabalho.
No caso do Brasil, o mau inglês tornou-se tão banal quanto o mau português, com a diferença de que aquele é mais perdoável e compreensível do que este. Se o mau inglês já é um ganho para muitos, por que um bom português não seria um belo diferencial para outros? Infelizmente, a percepção generalizada do português é a de que seria uma “língua difícil”, quando comparada ao inglês. Pura bobagem. O imaginário relativo ao português precisa ser urgentemente mudado, e muitos lingüistas, com estudos sérios, têm contribuído para isso. Ao contrário do que se pensa, o português nada tem de exótico ou complicado. A óptica está equivocada, embora tenha muitas raízes e razões. Históricas, pedagógicas, mentais. Entre muitas outras, há o mito do poliglota como um ser excepcionalmente dotado, o que não corresponde aos fatos. Ironicamente, quase sempre, os poliglotas nacionais fazem muito pouco com o potencial de que dispõem. São raros os Guimarães Rosas. Enquanto as borboletas passeiam, as abelhas e as formigas vão ao ponto.
Mitos e percepções equivocadas à parte, o fato é que inúmeras empresas estão despertando para o uso claro e correto do português. Nem sempre, na minha opinião, com os remédios mais proveitosos e eficazes. A razão é evidente: comunicação eficaz e língua devem andar juntas, indissociadas. Com o advento da Web e do próprio emaranhado de sua multipolaridade, a escrita se revigora e se amplia enormemente. Ocorre que nem tudo o que é escrito é necessariamente legível. Na verdade, o que se busca, nesse “retorno” à língua materna, é exatamente a legibilidade “perdida”. Sem o resgate da informação, não há, propriamente, informação nenhuma. Perde-se tempo e dinheiro, e nada se transmite ou se compartilha. É nesse contexto que o português volta a ser uma prioridade, sobretudo para determinadas funções e profissões. Chega-se à óbvia conclusão de que nem tudo pode ser reduzido à comunicação oral. Mas, ao falar assim, “nem tudo pode ser reduzido à comunicação oral”, corro o risco de sugerir uma simplificação grosseira, pois a conversação é tão essencial quanto a escrita às performances profissionais e corporativas. Não por acaso, quanto mais se ascende profissionalmente — como observou o historiador Theodore Zeldin —, mais precisamos conversar. Assim também parece ocorrer com a escrita — que, além de ser um privilégio, é uma necessidade e um instrumento de trabalho.