“Que bom ter um espaço para falar de outras preocupações que não sejam o vestibular.” Ouvi essa frase em recente palestra destinada aos pais de alunos de um colégio do Recife. O elogio se referia à quarta edição do Acerte o Rumo, evento realizado pela Trajeto e que, este ano, mudou o formato e, de abril a junho, foi às escolas. 
          Apesar de estar de cara nova, o projeto manteve a meta de sensibilizar estudantes e pais para a importância da escolha do projeto profissional. Além disso, buscou elevar o nível das informações sobre as profissões, o mercado e as tendências, sempre com foco na realidade de Pernambuco. Os encontros, que contaram com o apoio da revista Algomais e do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Pernambuco (Sinepe/PE), reuniram cerca de 2.100 estudantes e 200 pais, de 17 colégios do Grande Recife.
          O elogio feito pelo pai é pertinente por duas razões. A primeira é relacionada à recente substituição do vestibular pelo Enem. A mudança feita pelo MEC deve alterar toda a lógica do Sistema Educacional de Ensino. Em vez de privilegiar o acúmulo de conteúdos e a memorização para a retenção das informações, responsáveis pela cultura dos bizus e das decorebas, o que deverá ter força a partir de agora é a formação para o exercício da cidadania e a preparação geral para o trabalho, escopos da última Lei de Diretrizes e Bases para o Ensino Médio. Apesar de demandar uma adaptação por parte dos alunos e dos colégios, a substituição segue a tendência do dinâmico mundo contemporâneo, onde é imprescindível a capacidade de raciocinar, interpretar e buscar soluções criativas e inovadoras, mais que a retenção de fórmulas e regras.
          A segunda razão mostra o reconhecimento do êxito do Acerte o Rumo. As palestras interativas — ora destinadas aos pais, ora aos estudantes —, embora com enfoques distintos, abordavam a complexidade do cenário mundial e as profissões na nova economia de Pernambuco. Também foi realizada a distribuição da revista editada pela Algomais com a Trajeto (Guia Acerte o Rumo), contendo informações e entrevistas com profissionais renomados de 22 cursos das áreas de Exatas, Humanas e Saúde, além de artigos de especialistas.   
          Pais e filhos responderam afirmativamente ao Acerte o Rumo. No que diz respeito aos adolescentes, 94% avaliaram entre ótimo e bom; 3% acharam regular; 1%, ruim; e 2% não opinaram. Quanto às informações que mais contribuíram para a reflexão de sua escolha profissional, 61% responderam que foram as relativas a cursos e mercado; 24%, ao cenário atual de Pernambuco; 13%, aos determinantes da escolha; 2% não opinaram.
          Outro aspecto que corroborou a boa resposta do evento foi o esforço da equipe para terminar dentro do horário programado, pois havia grande quantidade de questões levantadas. A evasão foi baixíssima, e os alunos, muitas vezes, optaram pela troca do horário do intervalo de lanche pela continuidade do trabalho. No caso dos pais, o retorno positivo foi fornecido pelos inúmeros depoimentos sobre suas inquietações com o processo de escolha profissional dos filhos e pela solicitação que eles também tivessem acesso àquelas informações.
          Esses dados revelam uma carência de informações realistas sobre as profissões por parte dos adolescentes. A maioria não se mobiliza espontaneamente, é verdade; é preciso convidá-los. Mas respondem satisfatoriamente quando atraídos. Do lado dos pais, ao serem estimulados a participar e legitimados no papel que possuem, falam de suas expectativas, seus desejos e suas preocupações. Ao entenderem que exercem uma influência inevitável, mas que, ao contrário do que supõem, é estruturante, e não nociva, conseguem assumir uma posição mais ativa no processo de definição profissional do filho e, desse modo, ajudá-lo a fazer escolhas mais consistentes.