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Chefe ou líder?

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Publicado em Sun Mar 30 19:53:00 UTC 2014 - Edição 808

É possível que a distinção entre chefe e líder remonte à mais remota antiguidade. Atualmente, no dia a dia, a maioria dos gestores ainda se contenta em ser chefe, burocraticamente chefe, sem se livrar das amarras regimentais, normativas, e sem atentar para as exigências — sobretudo nos escalões mais elevados do mundo corporativo — de instituições instadas a permanentemente desafiar os seus próprios limites. Daí ser mais comum do que se pensa o uso equivocado do verbo liderar, pelo menos no sentido mais amplo exigido pela gestão. Muitos mandam, muitos se regozijam apenas com o poder que emana do cargo ou das normas estatutárias. Poucos na verdade lideram.

Uma coisa nos parece certa: as pessoas intuem ou subliminarmente percebem quando têm um verdadeiro líder. Os chefes, por sua vez, são percebidos por suas visíveis insígnias de poder: cargos, lugares de privilégio, sinais os mais diversos. Mas, claro, não há nada de errado nisso, é assim que as coisas funcionam rotineiramente. O líder, porém, vai mais longe: percebe-se que o seu “lugar” é mais elástico e que não coincide apenas com as mais saudáveis regras. Sente-se que o líder encarna algo mais que o esperado do exercício do poder. Não é raro, por isso, vê-lo quebrar protocolos para não apenas superar a si mesmo, mas para ser coerente consigo próprio. Sem rigorosa coerência, não há boa chefia e, muito menos, qualquer liderança digna do nome.

Líderes fazem com que liderados se movam mais rapidamente que os profissionais apenas chefiados. Eles mexem com o interior das pessoas, vale dizer, com suas emoções. Dentre tantos sentimentos que costumam despertar, destaca-se a esperança como forma de criar e prospectar o futuro. É na terra fértil da esperança que brota o entusiasmo real que leva o esforço ao êxito. “Entusiasmo”, etimologicamente, é “estar cheio de um deus”, ou seja, de uma potência que se sabe transformadora.

Líderes são criadores por natureza, isto é, não são meros repetidores. Eis por que soa tão paradoxal o haver escolas de liderança. Pode-se talvez suscitar com teorias e estímulos o sentido e o conhecimento da liderança, mas não forjá-la em quem não a possui de jeito nenhum. Nenhuma escola “fabrica” um Bill Gates, um Steve Jobs, um Joaquim Nabuco, um Getúlio Vargas. Os líderes se forjam, como diria o escritor Guimarães Rosa, na “travessia”, no embate das circunstâncias. Não por acaso as crises são verdadeiras parteiras de liderança, e muitas das lideranças advindas das crises são de fato surpreendentes, embora, se formos retrospectivamente examinar, nelas encontraremos os sinais preparatórios de sua existência, algumas das virtudes que fazem crescer tanto os negócios como a própria humanidade: a coerência, a coragem, a ousadia, a firmeza, a perseverança, a resiliência, tantas outras...


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