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As Lições Gerenciais de Scolari

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Publicado em Sun Jul 07 23:56:00 UTC 2002 - Edição 198

De "burro" e "teimoso" a "brilhante" e "grande estrategista". A façanha inédita da seleção brasileira de futebol transformou o técnico Luis Felipe Scolari de vilão em herói, em poucas semanas, para o povo brasileiro. Passada a ressaca da festa, a conquista do penta serve para provocar algumas reflexões importantes, até mesmo para quem não pode ser considerado propriamente um aficionado do futebol. Ao impor estilo e valores próprios, sem medo de ser impopular e mobilizando a equipe em torno de um objetivo comum, Felipão comportou-se como um gerente competente, deixando algumas lições úteis para o ambiente corporativo.

 

De acordo com o consultor Francisco Cunha, editor da coluna Desafio 21 e diretor da TGI Consultoria em Gestão, empresa integrante da Rede Gestão, não há nenhuma mágica em transformar um grupo desacreditado no melhor time de futebol do mundo. Para ele, Felipão montou um sistema de trabalho que desenvolveu a capacidade de aprender e aperfeiçoar-se a cada partida — o chamado work in progress. "Esse trabalho direcionado, tecnicamente competente e, sobretudo, apoiado no desenvolvimento do espírito de equipe, permitiu que talentos extraordinários como Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho pudessem conviver e, mais do que isso, cooperar, sem estrelismos ou individualismos desagregadores", observa.

 

O estilo Scolari, segundo Francisco, deixa alguns ensinamentos importantes para profissionais e organizações. "Em primeiro lugar, mostra que o talento individual, ao contrário do que se pensa, é tanto melhor aproveitado quanto maior é o espírito de equipe e a solidariedade. Em segundo, que um erro (o caso, por exemplo, da defesa, que começou muito mal e chegou ao final jogando bem) pode ser corrigido sem, necessariamente, trocar as pessoas, desde que haja reconhecimento do problema, capacidade de corrigir e vontade de acertar. E, em terceiro, que, quando necessário, as substituições devem ser feitas sem dramas."

 

E a sorte e o acaso, ajudaram a conquistar o título? São importantes também para desempenhar uma boa gestão? Citando Nelson Rodrigues, Francisco diz que "Sem sorte não se chupa nem um chica-bom. Você pode engasgar com o palito ou ser atropelado pela carrocinha". Ele também lembra, entretanto, a frase dos autores do livro Feitas para durar, de James Collins e Jerry Porras: "A sorte favorece quem é persistente". "Eu diria que a sorte favorece, sim, a boa gestão, sobretudo se há persistência na jogada".

 

Por fim, a disposição de aprender com os próprios erros é outro exemplo útil deixado por Scolari. "Sempre é possível e necessário aprender, nem que seja para não repetir o erro. Já se disse que a melhor forma de aprender é ensinando. Pode-se dizer algo parecido com o gerente: a melhor forma de aprender a gerenciar é gerenciando e refletindo sobre o que está sendo feito", assinala Francisco.


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