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Eleição e Propostas dos Candidatos
Publicado em Sun Sep 08 03:30:00 UTC 2002 - Edição 207Os candidatos de oposição à Presidência da República apresentam alternativas bem semelhantes para a solução do sobe e desce (mais desce do que sobe) da economia nacional. Parece um consenso a idéia de que a saída começaria pelo saldo do balanço comercial.
A exemplo dos anos anteriores, prevê-se que o gasto com juros, patentes, etc. provocará um rombo acima de vinte bilhões de dólares. Assim, para contrabalançar o caudaloso déficit desses itens do Balanço de Pagamentos, os candidatos oposicionistas falam da necessidade de políticas que incentivem nossas exportações. As vendas para o exterior teriam que gerar, pelo menos, um saldo comercial da mesma ordem do rombo.
O fato é que, se conseguido o intento, espera-se uma queda apreciável da taxa de juros. Disso adviriam conseqüências benéficas, dentre as quais a folga no orçamento federal pela diminuição da carga de juros, mais verbas para a execução dos itens sociais, clima mais favorável ao investimento privado e diminuição do desemprego.
De certa forma, o programa é um alento se comparado ao atual modelo que nos está conduzindo a um impasse — de fato, está nos levando, rapidamente, ao ponto em que chegou a Argentina. E, seguindo por essa trilha, a moratória é inevitável. Além do mais, poucos percebem que o caminho está nos levando, também, à associação à Alca, sem, pelo menos, a possibilidade de negociação. Parafraseando um dos candidatos, a palavra associação, na configuração atual, é um mero eufemismo da palavra anexação. Dessa forma, continuado o modelo presente, a moratória chegará sem que se tenham cartas na manga para minimizar seus efeitos, um deles sendo a terrível humilhação.
A questão importante é saber se, vencedor da eleição, o agora candidato terá condições de implementar seu programa. A situação mundial, infelizmente, aponta para uma resposta negativa. De maneira geral, os países emergentes que orbitam em torno do FMI necessitam, em graus variados, de saldos favoráveis do balanço comercial. Como todo saldo favorável corresponde a um desfavorável em algum lugar, restariam aos emergentes a esperança de os países desenvolvidos aceitarem balanços comerciais deficitários. Contudo, por razões diversas, estes têm exercido políticas protecionistas. O governo Bush tem sido o campeão dos subsídios à produção interna e das tarifas e quotas sobre os produtos potencialmente importáveis. O bloco europeu segue caminho semelhante. Assim, a menos que o G-7 modifique-se, é muito improvável que o novo presidente tenha graus de liberdade suficientes para fazer o que prometeu. Nesse caso, a moratória será uma questão de tempo e, quanto mais tarde, mais dolorosa será.
Conclui-se, portanto, que a quebra de contratos (eufemismo de moratória) é altamente provável, a menos que o G-7 mude de atitude. A diferença entre oposição e governo pode ser em relação à coragem de aceitá-la de pronto e fazer, com adaptações, o retorno ao mercado interno. A estreita margem de manobra que ainda nos resta esgotar-se-á com o atual modelo, o qual nos vem subordinando a interesses externos, publicamente inconfessáveis.