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Mulher: Mercado de Trabalho e Qualidade de Vida
Publicado em Mon Nov 25 00:43:00 UTC 2002 - Edição 218A atuação da mulher no mercado de trabalho vem crescendo numa grande velocidade. Hoje, as mulheres já ocupam 40% da força de trabalho no Brasil e chefiam doze milhões de famílias, um aumento de 50% em dez anos. As áreas de atuação também se ampliaram. "Tornou-se comum ver mulheres em segmentos antes considerados redutos masculinos, como a política, o setor automobilístico e as forças armadas", assinala a consultora Isabella Gonçalves, da TGI Consultoria em Gestão, integrante da Rede Gestão. Mas uma questão se impõe, segundo Isabella, nessa nova realidade corporativa, cada vez mais marcada pela presença feminina: como fica a qualidade de vida da mulher levada a lidar com tantas mudanças, a enfrentar conflitos e a desempenhar papéis sociais tão diferentes?
No mercado de trabalho, muita coisa mudou. Se antes o fato de "ter" que cuidar da casa e da família era visto como empecilho, hoje é encarado, de certa forma, como diferencial. "As empresas buscam profissionais polivalentes e isso é uma característica bem feminina", justifica Isabella. Outro tabu que caiu por terra foi o da maternidade. "A forma como muitas mulheres lidam com a gravidez, atualmente, as favorece". Algumas empresas já contratam grávidas, algo impensável há algum tempo, por acreditarem que isso reforça o comprometimento. E muitas outras procuram alternativas como instalação de creches e a volta negociada da licença maternidade.
O mercado mudou, os espaços de poder dentro e fora de casa estão menos desequilibrados, mas, na opinião da consultora, ainda existem muitos conflitos. Há, segundo ela, uma tensão e cobrança por parte da sociedade, e também das próprias mulheres, para que estas desempenhem — e muito bem — os papéis de profissional, filha, esposa e mãe. "Apesar de uma maior participação masculina nas atividades da casa e na educação dos filhos, a maior carga de responsabilidade ainda é da mulher, o que implica conflitos, sentimentos de culpa e frustrações".
Manter uma boa qualidade de vida, em meio a tantas pressões e obrigações, é algo difícil, mas perfeitamente possível, na opinião da consultora. "Não existem regras nem fórmulas mágicas, mas acho que no dia-a-dia a qualidade de vida se define mais do ponto de vista interno que externo. Trata-se de uma postura frente ao mundo do trabalho, à sociedade, ao lazer, à família e ao cotidiano. Passa pela saúde (física e mental), pelas questões da afetividade (qualidade dos relacionamentos) e pelo prazer em relação ao que se faz (profissão)."
Fatores de estresse, ligados a questões socioeconômicas, volume, natureza e condições de trabalho influenciam, mas não chegam a destruir a qualidade de vida. "O que muitas vezes destrói é o modo como se lida com essas questões", observa Isabella. "Muitas vezes as pessoas precisam consumir para sentir que vivem bem, quando, na verdade, a qualidade de vida passa pelo processo de amadurecimento de cada um, pelos valores pessoais, culturais e sociais." É um desafio, mas algo bem possível. Depende, segundo a consultora, de saber equilibrar os papéis, as tensões e os conflitos cotidianos, buscando sempre o fortalecimento de sua identidade pessoal, profissional e, também, o comprometimento com os problemas da sociedade.