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Empréstimos e Planejamento Empresarial
Publicado em Sun Apr 13 18:19:00 UTC 2003 - Edição 238O novo governo está noticiando que estimulará a economia através de linhas de financiamento para as empresas, atualmente, com os investimentos públicos garroteados, a única maneira de fazer crescer o PIB e gerar empregos. De fato, após quase dez anos sem inflação desregrada, já era tempo dos empresários nacionais tomarem o hábito de captar financiamentos bancários de longo prazo, como ocorre normalmente nas economias dos países desenvolvidos. Mas costumes não se alteram repentinamente. Assim, é lento o processo de percepção e mudança de mentalidade no ambiente empresarial, principalmente nas pequenas e médias empresas, quanto à importância do planejamento financeiro. Infelizmente, isso muitas vezes acarreta problemas sérios que terminam se refletindo no caixa, prejudicando os negócios ou mesmo levando à insolvência.
Para planejar, no caso das finanças, é importantíssimo fazer, de antemão, duas distinções: (1) separar o que efetivamente é "sobra" no caixa — lucro real do negócio — do faturamento. Ou seja, abater das receitas todos os custos e despesas — inclusive os impostos. (2) Distinguir os gastos com investimentos (longo prazo) de custos e despesas correntes. Cumprida essa etapa, é hora de pensar no futuro, fazendo um plano estratégico do negócio, para garantir a inserção da empresa no seu mercado, que é, naturalmente, dinâmico.
O planejamento financeiro tem uma importância vital neste momento, ao apontar as melhores fontes de recursos para levar adiante os investimentos necessários à realização do plano de expansão. Infelizmente, é exatamente nessa ocasião que muitas empresas se complicam. Sacam do capital de giro o que imaginam ser sobra de caixa, ou seja, utilizam um recurso de curto prazo (capital de giro) para realizar investimentos que vão dar retorno durante um bom período (longo prazo). Vale registrar que os investimentos têm como fontes de recursos: lucros, aporte de capital dos sócios ou financiamentos de longo prazo.
No Brasil, embora relativamente ainda pouco utilizados — principalmente pelas pequenas e médias empresas —, há financiamentos de longo prazo com recursos do BNDES, os quais são repassados por praticamente todos os bancos, e financiamentos com recursos específicos do Banco do Brasil, da Caixa Econômica e do Banco do Nordeste, estes estatais, também, integrando o sistema de repasses do BNDES. Esses empréstimos têm taxas de juros bastante atrativas, atualmente variando em torno de 16% ao ano, e devem ser usados para alavancar o crescimento das empresas, em vez do "afogamento" nos empréstimos de curto prazo, com taxas que rondam 100% ao ano.
O cenário para o crescimento do setor privado é promissor. Todavia, as empresas precisam cuidar do planejamento, elaborando bons projetos. Na macroeconomia, está chegando ao fim a fase neoliberal, que deixava o mercado responsável por tudo, renegando o planejamento, um conceito que terminou se refletindo na microeconomia, atingindo as próprias empresas. Em qualquer caso, é tempo de usar a mente, prevendo e regulando a força bruta do mercado.