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Reflexões sobre a 5ª Bienal Internacional de Arquitetura e o Caso do Recife

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Publicado em Sun Feb 22 17:26:00 UTC 2004 - Edição 283

A 5ª Bienal Internacional de Arquitetura e Design foi realizada em São Paulo em torno do tema Metrópole. Paradoxalmente, o edifício residencial, sem dúvida a principal geratriz do perfil das cidades, não teve relevância nos trabalhos de quase todos os arquitetos homenageados, com espaços específicos para exposição de sua obra recente.

 

O que se viu foi a valorização de obras públicas, comerciais, pontuadas ao longo de toda a malha urbana. Ressalte-se que 70% dos arquitetos homenageados eram do eixo Rio—São Paulo.

 

No Recife, não. A referência arquitetônica de nossa cidade está na malha urbana, na valorização do edifício solto no lote — quer seja residencial, comercial, público ou privado. Está na caligrafia resultante da cultura de construir balizada nos materiais do mercado local e de nossa economia.

 

Os materiais da "moda", os símbolos e os "ismos" não têm o eco como em outras paragens, graças, talvez, ao legado dos ensinamentos dos professores Evaldo Coutinho, Delfim Amorim e Acácio Gil Borsoi. E aí temos o grande diferencial.

 

É nos edifícios residenciais que o Recife expressa sua face. A diversidade dos edifícios residenciais de dimensões, formas e programas os mais diversos é uma constante em quase todos os bairros da cidade.

 

Essa pluralidade, no entanto, não resulta numa desordem formal. Há uma consciência por parte da grande maioria dos arquitetos locais de que o ofício de projetar não se resume a respostas de obras que atendam simplesmente à demanda de utilidades economicamente sustentáveis e funcionais, sujeitas a códigos e posturas nem sempre racionais. Implica, principalmente, a busca de qualidades estéticas, que não se conciliam automaticamente com todas essas solicitações usuais do mercado imobiliário.

 

Mérito inconteste de uma cultura arquitetônica que exibe vitalidade, desprendida de parecer vanguarda ou seguir moda. Que valoriza, sim, o ofício da busca do gesto arquitetural, concebendo espaços onde as atividades se façam com prazer, onde as pessoas possam usufruir e regozijar-se com a percepção da resposta desse espaço à sua expectativa.

 

É de se louvar o código de obras da década de 50, período em que se iniciava, no Brasil, a verticalização de nossas cidades, quando se optou pela valorização do edifício solto, obrigando afastamentos em relação a todos os limites do terreno. O adensamento dos bairros em transformação consagrou esse uso, passando a ser característica tipológica de metrópole em formação.

 

Portanto, como o tema da Bienal era Metrópole, esperávamos que os trabalhos de todos os escritórios com espaços específicos versassem sobre esse assunto. Esse tema poderia provocar nos participantes reflexões e vertentes que estimulassem a intervenção criadora, na busca da melhoria da qualidade de vida do homem nas grandes cidades.


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