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A revisão, essa desconhecida
Publicado em Sun Jun 11 18:21:00 UTC 2000 - Edição 90
Sempre costumo dizer que revisão, na verdade, significa revisões. No plural mesmo. Logo direi por quê. A maioria das pessoas, sem que isso seja um pecado mortal, costuma associar o termo ao perfil meramente ortográfico de um texto. Como se as palavras estivessem soltas no papel ou como se isso fosse o mais importante. Dessa forma, projetam para a opinião pública o que mais temem em si mesmas: a fragilidade ortográfica, isto é, das palavras corretamente grafadas. Ora, a prática revela que isso é a ponta do iceberg. É uma ponta que veio da nossa formação escolar, que insiste em inverter as prioridades básicas para o exercício criativo e prazeroso da nossa língua.
Bem, parece que dessa revisão mais superficial — embora importante — os softwares já estão dando conta. E isso ajuda não só autores como revisores. O que geralmente fica esquecido é uma série de itens que uma boa revisão contempla: pontuação, siglas, medidas, espaços adequados, correto uso do itálico e do negrito, abreviaturas, uso das maiúsculas e das minúsculas, repetições, uniformização de procedimentos, vícios de linguagem os mais variados (estes clandestinamente migrados da fala para a escrita...), grafia de datas, nomes próprios... A lista, como se vê, vai muito além da dita "ortografia", a menos que esse termo seja uma figura de linguagem!... Sem falar que um bom revisor persegue a clareza, o ritmo, a beleza do idioma... Do revisor pode-se dizer, parodiando famosa frase, que detesta o pecado e ama o pecador... Daí porque não devemos temê-lo como a um terrível censor, mas antes desejá-lo como um amigo e confidente. Ao fim e ao cabo, quem brilha é você, autor, tornando o seu texto polido e "lubrificado", pronto para ganhar o mundo...
Entre nós, brasileiros, a revisão deveria ter um papel nuclear, quer por sua função plural — agregadora de qualidade —, quer pela negligência com que se trata o idioma. Faz-se da língua portuguesa uma espécie de santa ou prostituta numa polarização que a mitifica como rica e difícil, uma herança que, como tantas outras, não reconhecemos como nossa, culpando-a e fazendo-a de bode expiatório ou atribuindo-lhe características tão elevadas que não julgamos nunca dominar. É mais um desperdício nacional. E isso é tanto mais inquietante quanto mais nos damos conta da excepcional unidade lingüística de que o Brasil — tão continentalmente vasto — desfruta.
Para concluir, pode-se dizer que quem tem visão faz revisão. Quanto mais "revê", mais aguça o olhar e aprimora a qualidade de sua mensagem. Não é apenas a moral da gramática que está em jogo, mas toda uma ética da comunicação.
Bem, parece que dessa revisão mais superficial — embora importante — os softwares já estão dando conta. E isso ajuda não só autores como revisores. O que geralmente fica esquecido é uma série de itens que uma boa revisão contempla: pontuação, siglas, medidas, espaços adequados, correto uso do itálico e do negrito, abreviaturas, uso das maiúsculas e das minúsculas, repetições, uniformização de procedimentos, vícios de linguagem os mais variados (estes clandestinamente migrados da fala para a escrita...), grafia de datas, nomes próprios... A lista, como se vê, vai muito além da dita "ortografia", a menos que esse termo seja uma figura de linguagem!... Sem falar que um bom revisor persegue a clareza, o ritmo, a beleza do idioma... Do revisor pode-se dizer, parodiando famosa frase, que detesta o pecado e ama o pecador... Daí porque não devemos temê-lo como a um terrível censor, mas antes desejá-lo como um amigo e confidente. Ao fim e ao cabo, quem brilha é você, autor, tornando o seu texto polido e "lubrificado", pronto para ganhar o mundo...
Entre nós, brasileiros, a revisão deveria ter um papel nuclear, quer por sua função plural — agregadora de qualidade —, quer pela negligência com que se trata o idioma. Faz-se da língua portuguesa uma espécie de santa ou prostituta numa polarização que a mitifica como rica e difícil, uma herança que, como tantas outras, não reconhecemos como nossa, culpando-a e fazendo-a de bode expiatório ou atribuindo-lhe características tão elevadas que não julgamos nunca dominar. É mais um desperdício nacional. E isso é tanto mais inquietante quanto mais nos damos conta da excepcional unidade lingüística de que o Brasil — tão continentalmente vasto — desfruta.
Para concluir, pode-se dizer que quem tem visão faz revisão. Quanto mais "revê", mais aguça o olhar e aprimora a qualidade de sua mensagem. Não é apenas a moral da gramática que está em jogo, mas toda uma ética da comunicação.