O crescimento desordenado das grandes cidades reduziu significativamente o contato do homem com a natureza, eliminando progressivamente as áreas verdes e, em muitos casos, comprometendo a qualidade de vida e o meio ambiente. Nesse cenário, o paisagismo surge como uma ferramenta fundamental para resgatar o equilíbrio, proporcionando mais harmonia aos projetos arquitetônicos e devolvendo às cidades e às construções a necessária convivência com o verde e com as paisagens naturais. O paisagismo é, em essência, a forma pela qual o homem pode fazer as pazes com a natureza, o que traz não só mais beleza às paisagens urbanas, mas também uma melhor qualidade de vida para a população, graças a um maior equilíbrio do ecossistema, melhor qualidade do ar, diminuição do nível de ruídos urbanos, entre outros fatores. Nesta entrevista, o paisagista Luiz Vieira, da Luiz Vieira Arquitetura de Paisagem, integrante da Rede Gestão, fala mais sobre o assunto.

Como atua o paisagismo ou a arquitetura de paisagem?

O paisagismo é considerado, em geral, como a composição de jardins em que o objetivo principal é a flor, a cor da folhagem ou a planta da moda. No entanto, a vegetação é apenas um dos elementos que compõem a paisagem, talvez o mais efêmero de todos. A arquitetura de paisagem é a profissão que atua nos espaços abertos e espaços externos às edificações. Seu campo de atuação é vasto, e o tempo atua como uma quarta dimensão. A composição estética da paisagem construída de um lugar é fundamentada nos desejos, nas necessidades e nas aspirações das pessoas envolvidas e nos diversos aspectos físicos e biológicos do espaço existente. Conseqüentemente, a micropaisagem criada por uma intervenção paisagística deve ser a síntese do complexo contexto da paisagem à qual se insere e de seus fatores socioeconômicos e culturais.

Quais os ganhos ao se implantar um projeto paisagístico?

O desenvolvimento do projeto, baseado em um conceito consistente, resulta num produto diferenciado e de qualidade, que constrói uma imagem para o lugar da intervenção paisagística. Essa imagem gera um valor agregado ao produto final, seja uma casa, um hotel ou um parque, que resulta em uma maior qualidade estética e conseqüentemente um maior valor cultural ou comercial do objeto.

Que exemplos poderíamos citar?

Como valorização cultural podemos citar as praças de Casa Forte, Euclides da Cunha e Salgado Filho (Aeroporto), projetadas pelo maior paisagista do século XX, Roberto Burle Marx, e que fazem parte do patrimônio cultural da cidade do Recife. Como valorização comercial podemos citar o Nannai Muro Alto Beach Resort, na praia de Muro Alto, litoral sul de Pernambuco, cujo parque aquático foi destaque na reportagem Cool Pools, from an arabian desert oasis to a brazilian beach beauty, Suzans d’Arcy finds the hot spots to cool off, sobre piscinas charmosas, em quatro hotéis de diferentes continentes, editada no Sunday Times, Londres, de 23 de novembro de 2003.

Como deve ser a atuação do paisagista?

O arquiteto paisagista deve participar do processo, desde o início das discussões com os clientes, arquitetos e consultores, para que espaços externos e espaços edificados sejam pensados conjuntamente. O escopo do projeto de arquitetura paisagística é a concepção de toda área externa, que inclui, entre outros, parque aquático, decks, passeios, sistema viário, estacionamento, área esportiva, playground e vegetação, planejamento ambiental, recuperação de áreas degradadas e renaturalização de cursos d’águas.

Qual a importância do paisagismo para a melhoria da qualidade de vida nas grandes cidades?

Uma importância crescente, na medida em que promove uma maior integração do homem com a natureza e proporciona uma utilização mais racional dos espaços urbanos. Isso tem reflexos diretos na qualidade de vida da população, principalmente nas grandes cidades, onde se percebe uma degradação maior do meio ambiente.