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Comunicação escrita na era digital
Publicado em Sun Aug 13 18:46:00 UTC 2000 - Edição 99
Há algum tempo, gurus da Era da Informação arriscaram uma profecia sombria em relação ao futuro da palavra escrita. Para eles, por volta do ano 2000, o texto escrito estaria praticamente fadado à extinção, substituído por uma pretensa "palavra eletrônica", tecnologicamente mais moderna. A Revolução Digital chegou, trazendo à reboque novas formas de comunicação - e-mail, e-book, hipertexto - mas, para surpresa de muitos, a palavra escrita continua mais viva do que nunca. Nessa entrevista, o consultor Paulo Gustavo, escritor, mestre em Teoria da Literatura e sócio da Consultexto, empresa especializada em texto e associada à Rede Gestão, fala sobre a comunicação escrita na era digital e especula porque a profecia, mais uma vez, falhou.
É possível que a palavra escrita seja substituída por uma palavra eletrônica?
PG - Há uma ilusão de que haverá uma eliminação da escrita como se esta, com a complexidade que lhe é inerente, depois de ter sido o alicerce da própria civilização, fosse algo descartável. Ora, o que se pode imaginar é que não haverá qualquer "oralização" da sociedade, mas, sim, o uso tópico, localizado, de recursos tecnológicos (a exemplos de comandos de voz) para determinados casos, tanto da vida digital quanto da própria vida real. O que ocorre, na verdade, é uma torcida emocional pelo fim do "sacrifício" - para alguns - do uso da palavra escrita (pode-se dizer que esta nem sempre é uma tecnologia amigável para todos).
Quais os impactos da revolução tecnológica sobre o texto escrito?
PG - A palavra escrita está sofrendo uma metamorfose, sobretudo pelas interfaces com a multimídia, o hipertexto e, naturalmente, com o mundo das imagens gerado pela própria tecnologia da informação. Paul Saffo, pesquisador do Instituto para o Futuro, da Califórnia, declarou que "a palavra escrita não apenas permanece - mas floresce como trepadeira nas fronteiras da revolução digital". O que ocorre é uma evidência: a palavra escrita encontrou um novo meio - o eletrônico -, descolando-se do papel. Ainda citando Saffo, "as imagens trafegarão em rede eletrônica em linguagem multimídia, tendo as palavras como seus verdadeiros guarda-costas. O texto permanecerá como um indicador primário de fidelidade".
Nesse contexto, como se situam as novas ferramentas de comunicação, como o e-mail e o e-book?
PG - Do ponto de vista do uso da palavra escrita, o correio eletrônico é uma mistura de formalismo com informalismo. A clareza e a concisão passam a ser pré-requisitos, sem os quais se compromete a própria comunicação. O e-mail também é uma fonte de interatividade em escala planetária, promovendo, muitas vezes, a ruptura de hierarquias e a transversalidade das relações. O e-book, como tantos outros produtos tecnológicos, não nos tomará de assalto e, quem sabe, por muito tempo conviverá com o livro convencional. Seu uso dependerá da praticidade que venha a adquirir.
Qual o futuro da palavra escrita?
PG - Num futuro não muito remoto, estima-se que parte da comunicação hoje escrita poderá ser fruto de comandos de voz - da ponta dos dedos, literalmente, pulará para a ponta da língua - ou da ação das próprias máquinas. Mas a palavra escrita continuará sendo, independentemente do seu suporte (e de sua autoria!) uma espécie de âncora, abrigo e segurança. A Era Digital não me parece exatamente antigutemberguiana, mas transgutemberguiana. Quem viver lerá.
É possível que a palavra escrita seja substituída por uma palavra eletrônica?
PG - Há uma ilusão de que haverá uma eliminação da escrita como se esta, com a complexidade que lhe é inerente, depois de ter sido o alicerce da própria civilização, fosse algo descartável. Ora, o que se pode imaginar é que não haverá qualquer "oralização" da sociedade, mas, sim, o uso tópico, localizado, de recursos tecnológicos (a exemplos de comandos de voz) para determinados casos, tanto da vida digital quanto da própria vida real. O que ocorre, na verdade, é uma torcida emocional pelo fim do "sacrifício" - para alguns - do uso da palavra escrita (pode-se dizer que esta nem sempre é uma tecnologia amigável para todos).
Quais os impactos da revolução tecnológica sobre o texto escrito?
PG - A palavra escrita está sofrendo uma metamorfose, sobretudo pelas interfaces com a multimídia, o hipertexto e, naturalmente, com o mundo das imagens gerado pela própria tecnologia da informação. Paul Saffo, pesquisador do Instituto para o Futuro, da Califórnia, declarou que "a palavra escrita não apenas permanece - mas floresce como trepadeira nas fronteiras da revolução digital". O que ocorre é uma evidência: a palavra escrita encontrou um novo meio - o eletrônico -, descolando-se do papel. Ainda citando Saffo, "as imagens trafegarão em rede eletrônica em linguagem multimídia, tendo as palavras como seus verdadeiros guarda-costas. O texto permanecerá como um indicador primário de fidelidade".
Nesse contexto, como se situam as novas ferramentas de comunicação, como o e-mail e o e-book?
PG - Do ponto de vista do uso da palavra escrita, o correio eletrônico é uma mistura de formalismo com informalismo. A clareza e a concisão passam a ser pré-requisitos, sem os quais se compromete a própria comunicação. O e-mail também é uma fonte de interatividade em escala planetária, promovendo, muitas vezes, a ruptura de hierarquias e a transversalidade das relações. O e-book, como tantos outros produtos tecnológicos, não nos tomará de assalto e, quem sabe, por muito tempo conviverá com o livro convencional. Seu uso dependerá da praticidade que venha a adquirir.
Qual o futuro da palavra escrita?
PG - Num futuro não muito remoto, estima-se que parte da comunicação hoje escrita poderá ser fruto de comandos de voz - da ponta dos dedos, literalmente, pulará para a ponta da língua - ou da ação das próprias máquinas. Mas a palavra escrita continuará sendo, independentemente do seu suporte (e de sua autoria!) uma espécie de âncora, abrigo e segurança. A Era Digital não me parece exatamente antigutemberguiana, mas transgutemberguiana. Quem viver lerá.