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A moda dos estrangeirismos

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Publicado em Sun May 13 20:30:00 UTC 2001 - Edição 138
Entrega em domicílio virou delivery. Nas vitrines, a liquidação é anunciada como sale. Nem o popular campeonato de futebol resistiu, e foi invadido por expressões como play-off. Se no dia-a-dia o uso de palavras em inglês é um hábito comum, no ambiente corporativo os estrangeirismos já podem ser considerados uma verdadeira epidemia. Quem nunca ficou em dúvida ao ouvir termos como target, start up, follow up, heavy user, prospect, branding, spread, empowerment, outsourcing, entre tantos outros que povoam o cotidiano das empresas e organizações? "Não é o caso de sermos nacionalistas ou xenófobos, rejeitando contribuições da língua inglesa, mas é aconselhável avaliar se o uso exagerado dos estrangeirismos não está comprometendo a eficiência da comunicação", alerta o consultor Paulo Gustavo, da Consultexto, integrante da Rede Gestão.

Ao revisar um material publicitário produzido por um cliente, há pouco tempo, Paulo Gustavo surpreendeu-se com o excesso de palavras em inglês. "Eram tantas que questionei se o público-alvo conseguiria compreender corretamente a mensagem", conta. Há casos que já viraram piada, como o diretor executivo de uma empresa local que não conseguia pronunciar corretamente o cargo de Chief Executive Officer (CEO) impresso em seu cartão de visitas. Constrangido, pediu para reassumir a antiga função em bom português.

O fato é que, em alguns casos, o uso indiscriminado de termos estrangeiros pode atrapalhar a eficiência e a competitividade de uma organização. "Será que ao colocar uma placa, identificando-se como drugstore, a farmácia está adotando uma estratégia de comunicação adequada à sua clientela?", questiona o consultor. No mesmo caso encontram-se as lojas que substituem a entrega em domicílio pelo pedante delivery. Nos dois exemplos, a adoção do estrangeirismo em nada contribui para tornar a comunicação mais eficiente.

Para o consultor, por trás do uso excessivo de palavras em inglês esconde-se a falta de auto-estima dos brasileiros com a sua língua e sua cultura. O dono da loja acredita que o sale confere status e um ar mais sofisticado à sua liquidação. A língua, desta forma, é usada mais para passar uma imagem elitizada do que para comunicar. "Os estrangeirismos, nesse caso, apontam para a discriminação social, agravando-a ainda mais", observa Paulo Gustavo. "A maior parte das pessoas não compreende a mensagem e fica à margem do processo de comunicação."

Um polêmico projeto de autoria do deputado federal Aldo Rebelo (PC do B/SP), em tramitação no Congresso Federal, pretende coibir o uso abusivo de termos estrangeiros, atingindo em cheio setores como a Publicidade. "Além de dificultar a comunicação, o uso indiscriminado da língua inglesa constrange quem não a domina", justifica o deputado. Para Paulo Gustavo, esse problema não se resolve por meio de leis ou decretos. "Trata-se de uma questão de atitude e de bom senso."

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