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Incentivo ao consumo

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Publicado em Sun Aug 13 12:48:00 UTC 2000 - Edição 99
A demanda agregada de uma economia se compõe de quatro variáveis: consumo, investimentos, gastos do governo e exportações líquidas (exportações menos importações). O consumo representa, todavia, a maior parte do todo e, por isso, é a variável mais importante. Sem consumo não há produção e sem esta não há emprego dos fatores produtivos. As facilidades de crédito surgem como instrumento fundamental para incentivar as pessoas às compras. A questão é entender se tais facilidades constituem ou não um benefício para o consumidor. Para isso, vamos analisar dois aspectos:

1. O ponto de vista de quem vende

Consideremos um caso mais simples de uma compra feita, no cartão de crédito, no valor hipotético de R$ 300,00, dividido em 3 parcelas iguais de R$ 100,00, sem juros. Tomando por base o custo do dinheiro em 3% ao mês, o valor presente dessa venda é, na verdade, de R$ 282,86. Descontando também a taxa de serviço da administradora, o recolhimento do PIS/Cofins e ICMS, chega-se à receita líquida de R$ 238,05. Deduzindo o custo dos produtos vendidos (geralmente 70% da receita bruta), sobra um lucro bruto de R$ 28,05 para arcar com todas as demais despesas (administrativas, operacionais, financeiras, etc.).

O caso assumiria conotações bem piores se fosse considerado o custo do crédito. É fundamental a empresa levar em consideração que, no exemplo, está perdendo 12% de suas vendas e provocando, possivelmente, um deslocamento de sua receita, sem que haja qualquer alteração de custos. Geralmente, a empresa equaciona esse deslocamento efetuando desconto de faturas de vendas com cartões, feito pelas próprias administradoras.

2. O ponto de vista de quem compra

Não raro, o consumidor interpreta o cartão de crédito ou o cheque especial como uma "renda adicional". Na verdade, são empréstimos feitos a taxas de juros bastante elevadas. Em abril, por exemplo, o Credicard cobrou 11,5% ao mês. Vamos considerar que o consumidor só consiga amortizar 50% do valor da fatura e que vai pagar 11,5% ao mês sobre o saldo devedor. Ao longo de três meses, ele terá pago R$ 14,71 de juros - aparentemente uma vantagem, mas uma tragédia para a economia, que vai perder esse montante em consumo.

As vendas parceladas só beneficiam a intermediação financeira, aparentemente o único setor que ganha sempre, sobretudo quando se lida com taxas praticadas muito acima do nível de inflação.

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