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Contabilidade: uma breve viagem no tempo (parte 2/3)

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Publicado em Sun Dec 03 12:53:00 UTC 2000 - Edição 115
O auge da contabilidade como ciência da informação acontece durante as duas primeiras décadas do século XX, quando surgiram algumas gigantescas firmas multidivisionais e integradas verticalmente, como a General Electric, a Du Pont e a General Motors. Essas grandes corporações, que executavam atividades complexas, necessitavam da alocação de seus recursos da forma mais eficiente possível; e índices como retorno sobre o investimento foram criados com essa finalidade. Novos sistemas contábeis gerenciais, cujas características básicas permanecem as mesmas até os dias de hoje, foram criados para dar suporte à rápida expansão de tais firmas.

A demanda por parte dos proprietários e de novos investidores por informações contábeis confiáveis cresce significativamente com a quebra da Bolsa de Nova Iorque, no final da década de 20. Nesse instante, a contabilidade financeira ganha uma importância fundamental e torna-se cada vez mais conservadora, a fim de evitar a repetição de desastres como aquele.

A segunda metade do século XX é marcada pela estagnação no desenvolvimento da contabilidade. A preocupação dos contadores passa a ser com demonstrações contábeis articuladas com os sistemas de custeio; conservadorismo e precisão nos registros ganham mais importância do que a qualidade e o timing de informação. Pouco a pouco, a contabilidade restringe-se ao mundo dos contadores. A obsessão em "fechar" o balanço com uma precisão que tange à casa dos centésimos (prática essa que perdura até os nossos dias) retirou o foco da contabilidade da pesquisa contínua de soluções inéditas para os também inéditos problemas surgidos com o aparecimento de empresas e ambientes mais complexos.

Medidas contábil-financeiras, tradicionais e consagradas, como o ROI (Retorno sobre o Investimento) e o LPA (Lucro por Ação), podem apresentar resultados enganadores quanto ao futuro da empresa, pois seus administradores são progressivamente pressionados por bons resultados de curto prazo pelos proprietários e credores, ávidos por demonstrações a cada trimestre, relegando, assim, investimentos importantes para o crescimento no longo prazo. Os sistemas contábeis ainda são os mesmos adotados na primeira metade do século, tendo como diferença apenas o uso do computador para fazer tal tarefa.

Mesmo esse manuseio do computador, porque associado a sistemas arcaicos desenvolvidos há 80 ou até 100 anos, importa diagnósticos equivocados numa base mensal, trimestral, semestral, e assim por diante, dando a falsa impressão de que o aumento da freqüência de informação contábil aumentou sua qualidade. Imaginem se, por exemplo, o contador das expedições daquela época resolvesse ser mais "eficiente" e passasse a informar o desempenho financeiro da empreitada com balancetes trimestrais... Provavelmente, isso pouco ajudaria, e talvez Marco Polo enlouquecesse antes de chegar ao Oriente com os prejuízos apresentados nos primeiros trimestres, quando o negócio só apresentaria resultados negativos.

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