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Made in China
O espetáculo do crescimento chinês esconde problemas como exploração da mão-de-obra, desrespeito ao meio ambiente e forte controle estatal. Publicado em Sun Sep 16 14:58:00 UTC 2007 - Edição 467
A China vem exercendo grande fascínio sobre as mentes de muitos ocidentais. Não é para menos. O “espetáculo do crescimento” realmente está ocorrendo lá, e não aqui. Mas nem todos os que conhecem de perto a experiência chinesa voltam fascinados. De fato, é necessário fazer uma reflexão e algumas ressalvas sobre o acelerado crescimento do país mais populoso do mundo.
O Brasil também pode tentar obter 9% ou 10% de crescimento anual rapidamente. É só achar um meio de convencer, pacificamente, o povo brasileiro a viver assim: salário de US$ 40,00 mensais, fim do direito às férias anuais de um mês, supressão do FGTS (cujo montante atual passaria para as mãos do governo para financiar obras para o crescimento), extinção da propriedade privada como a conhecemos no Ocidente, desregulamentação das patentes contratadas internacionalmente, controle estatal sobre os sindicatos e partidos políticos, câmbio controlado pelo regime totalitário (fim da democracia, claro!), flexibilização total para mais, dos horários de trabalho (pagar hora extra?), inexistência de EPI (Equipamento de Proteção Individual) e repressão violenta sobre qualquer tipo de oposição ou opositor.
Essa é a receita do sucesso chinês. Foi essa junção de enormes “facilidades” que deixou investidores ocidentais tão contentes com o retorno lucrativo que conseguem em parcerias e investimentos do outro lado do mundo, mesmo que as garantias institucionais tão exigidas de países como o Brasil tenham sido “relativizadas” quando o assunto é China.
Tantas contradições históricas não ficarão “estabilizadas” e inertes para sempre. A maior de todas as contradições está no convívio entre o estilo capitalista de vida que é proposto aos jovens chineses de hoje e a tradicional cultura chinesa. Em geral, pensa-se que a cultura é tanto mais forte quanto mais antiga for. Isso não é verdade. Basta ver o que ocorreu às milenares culturas indígenas da América após a chegada dos colonizadores europeus aqui. Nos embates culturais, a longevidade nem sempre determina a hegemonia. Na China, aliás, tem sido mais forte o apelo aos prazeres materiais da vida (hedonismo) que a manutenção da contenção comportamental típica da cultura tradicional de lá.
A China tem uma pluralidade de culturas em sua base histórica, mas a Revolução Cultural do regime comunista desagregou o conjunto central de valores dessa base e ainda submeteu, por invasão militar e aculturação, o povo vizinho do Tibet, que legitimamente tem seu governo reivindicado pacificamente pelo dalai-lama.
Não bastassem tais fatores, existe a problemática ambiental. O vazamento de benzeno sobre o Rio Songhua pela indústria 101, da PetroChina, foi um episódio cujo relato conseguiu ultrapassar a censura estatal e chegou ao resto do mundo em 2005. As explosões e mortes em minas de carvão, onde o trabalho humano é feito em condições muito precárias, mostram a todo instante o apressamento da necessidade de extrair o minério que gera a energia, vital para o crescimento do país. Se somarmos isso à poluição ambiental urbana e à desertificação de áreas antes agricultáveis, vemos a sinuca de bico em que a China poderá se meter no futuro, arrastando consigo o atual formato da estabilidade macroeconômica mundial, onde os chineses financiam o difícil equilíbrio norte-americano. Segundo o Instituto Akatu, “A China sofrerá uma grave crise ambiental até 2020 se não mudar seu modelo de desenvolvimento econômico”.
Definitivamente, não estamos diante dos fatos portadores de futuro que projetamos e desejamos para o mundo. A China não nos serve como modelo fechado. Em algum momento, por qualquer ou por vários dos fatores fortemente contraditórios que carrega, o “império do centro” vai engasgar. Esperemos que a espinha do engasgo não venha parar nas nossas gargantas!
O Brasil também pode tentar obter 9% ou 10% de crescimento anual rapidamente. É só achar um meio de convencer, pacificamente, o povo brasileiro a viver assim: salário de US$ 40,00 mensais, fim do direito às férias anuais de um mês, supressão do FGTS (cujo montante atual passaria para as mãos do governo para financiar obras para o crescimento), extinção da propriedade privada como a conhecemos no Ocidente, desregulamentação das patentes contratadas internacionalmente, controle estatal sobre os sindicatos e partidos políticos, câmbio controlado pelo regime totalitário (fim da democracia, claro!), flexibilização total para mais, dos horários de trabalho (pagar hora extra?), inexistência de EPI (Equipamento de Proteção Individual) e repressão violenta sobre qualquer tipo de oposição ou opositor.
Essa é a receita do sucesso chinês. Foi essa junção de enormes “facilidades” que deixou investidores ocidentais tão contentes com o retorno lucrativo que conseguem em parcerias e investimentos do outro lado do mundo, mesmo que as garantias institucionais tão exigidas de países como o Brasil tenham sido “relativizadas” quando o assunto é China.
Tantas contradições históricas não ficarão “estabilizadas” e inertes para sempre. A maior de todas as contradições está no convívio entre o estilo capitalista de vida que é proposto aos jovens chineses de hoje e a tradicional cultura chinesa. Em geral, pensa-se que a cultura é tanto mais forte quanto mais antiga for. Isso não é verdade. Basta ver o que ocorreu às milenares culturas indígenas da América após a chegada dos colonizadores europeus aqui. Nos embates culturais, a longevidade nem sempre determina a hegemonia. Na China, aliás, tem sido mais forte o apelo aos prazeres materiais da vida (hedonismo) que a manutenção da contenção comportamental típica da cultura tradicional de lá.
A China tem uma pluralidade de culturas em sua base histórica, mas a Revolução Cultural do regime comunista desagregou o conjunto central de valores dessa base e ainda submeteu, por invasão militar e aculturação, o povo vizinho do Tibet, que legitimamente tem seu governo reivindicado pacificamente pelo dalai-lama.
Não bastassem tais fatores, existe a problemática ambiental. O vazamento de benzeno sobre o Rio Songhua pela indústria 101, da PetroChina, foi um episódio cujo relato conseguiu ultrapassar a censura estatal e chegou ao resto do mundo em 2005. As explosões e mortes em minas de carvão, onde o trabalho humano é feito em condições muito precárias, mostram a todo instante o apressamento da necessidade de extrair o minério que gera a energia, vital para o crescimento do país. Se somarmos isso à poluição ambiental urbana e à desertificação de áreas antes agricultáveis, vemos a sinuca de bico em que a China poderá se meter no futuro, arrastando consigo o atual formato da estabilidade macroeconômica mundial, onde os chineses financiam o difícil equilíbrio norte-americano. Segundo o Instituto Akatu, “A China sofrerá uma grave crise ambiental até 2020 se não mudar seu modelo de desenvolvimento econômico”.
Definitivamente, não estamos diante dos fatos portadores de futuro que projetamos e desejamos para o mundo. A China não nos serve como modelo fechado. Em algum momento, por qualquer ou por vários dos fatores fortemente contraditórios que carrega, o “império do centro” vai engasgar. Esperemos que a espinha do engasgo não venha parar nas nossas gargantas!