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Shopping: uma "invenção das arábias"!

Os primeiros centros de compras foram criados há mais de mil anos com estrutura muito semelhante aos atuais shoppings.
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Publicado em Sun Jun 15 20:45:00 UTC 2008 - Edição 506
          Na história empresarial, temos algumas informações que surpreendem até os empresários que atuam em certos setores. Os shoppings, por exemplo, foram inventados pelos persas. O primeiro nome para o que hoje chamamos shopping center foi bazaar. Essa palavra persa significa mercado ou reunião de lojas de variados produtos e serviços diante de uma rua comum. O maior e mais antigo bazar coberto do mundo funciona até hoje: é o Bazaar de Isfahan, no Irã (nome atual da Pérsia), construído no ano 1000, que possui 58 ruas e 4 mil lojas.

          Todo bazar tem ou tinha uma rua principal (raste), que é o centro espacial linear de circulação, esplendidamente decorada e onde fica a entrada principal. Paralelamente a ela, dos dois lados, nascem outras ruas de lojas. Em intervalos regulares, aparecem portões com arcadas levando a espaços maiores, para caravanas (caravanserais), escolas, casas de banho ou mesquitas. As amplas ruas (ou corredores) dos melhores bazares já eram cobertas naquela época, unidas por arcadas muito altas e decoradas com arabescos, e com alojamento externo para as caravanas.

          Havia também os sarais, que eram pequenos conjuntos de escritórios do mesmo ramo anexos ao bazar, para transações comerciais maiores e mais complexas, com um jardim comum no centro, a céu aberto. Quem já tinha acumulado riqueza podia comprar uma loja no primeiro andar de um caravanserai ou um escritório num sarai para ficar administrando as próprias caravanas ou o volume de negócios. Um formato encontrado hoje em qualquer shopping center: a loja, ou comércio, onde embaixo se atendem os clientes, e logo acima, através de uma escada, chega-se ao estoque ou a um pequeno escritório. Essas lojas situavam-se na raste e chamavam-se hojre. Mediam de 10 m2 a 25 m2.

          Mas os persas não iam ao bazar apenas para fazer compras. O prédio era muito mais que um mercado farto e luxuoso: as pessoas que desejassem ver e ser vistas sabiam que ali encontrariam as ocasiões ideais. Era o coração da cidade.

          Para entrar no negócio de vendas em bazares, era necessário passar por um teste. O julgamento era feito pelos outros negociantes do mesmo ramo. A habilidade e a qualidade da mercadoria ou do serviço eram comparadas aos de quem já estava estabelecido. Era o controle de qualidade da época. Não se admitia nada inferior ao que já estava sendo comercializado. E os produtos ou serviços semelhantes eram oferecidos na mesma área do bazar (chamada senf), evitando que os clientes precisassem deslocar-se ou pechinchar longamente.

          O serviço de proteção ao consumidor e os sindicatos também existiam na versão "ano 1000 muçulmano": cada senf escolhia alguns de seus membros para compor uma espécie de assembléia que analisava as reclamações de compradores contra qualquer senf e também as reivindicações dos próprios comerciantes para sua categoria. Além disso, elegiam um kadkhoda e um mohtaseb para cuidar da ordem em cada senf e do bazar inteiro, respectivamente. O mohtaseb passava o dia inteiro andando pelo bazar, vigiando a limpeza, o barulho, a aglomeração de pessoas e o movimento de animais. Também vigiava a conduta dos comerciantes, lembrando as regras do Corão quanto ao lucro e ao comportamento.

          E por que o Ocidente demorou tanto a inaugurar seus shoppings, comparando a sua história comercial com a desses muçulmanos? É que a civilização muçulmana, assim como a cristã, é expansionista. Quando os muçulmanos foram expulsos da Europa (duas civilizações expansionistas têm convívio difícil), o código de valores preponderante para as atividades comerciais mudou, assim como os recursos tecnológicos e os capitais disponíveis. Na cristandade, somente a França moderna, séculos depois, "reinventaria" essa roda.

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