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Criação Destrutiva

Resultado de uma desregulamentação irresponsável do sistema financeiro, a atual crise pode levar os países ricos a uma profunda recessão.
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Publicado em Sun Oct 26 18:54:00 UTC 2008 - Edição 525
          O título deste artigo vem a calhar como uma indagação sobre o desfecho incerto da presente crise. Schumpeter usou o conceito criação destrutiva para qualificar um fenômeno inerente ao capitalismo, segundo o qual, numa onda de ciclo econômico crítico, desenvolve-se um processo de purgação do sistema que se caracteriza pela destruição, criação e recriação de iniciativas empreendedoras, em que o papel das inovações tecnológicas é essencial.
          No mundo pragmático dos “espertos”, o fenômeno da difusão de “inovações” manifestou-se no setor financeiro e se alimentou da crença nas virtudes do mercado, da desregulamentação, da inovação tecnológica e da mobilidade internacional de capital. E contou com a completa irresponsabilidade dos governos dos países ricos que permitiram a desregulamentação, sem freios, do sistema financeiro. Entregue à sua própria “vontade”, o mercado viu prosperar um ambiente favorável aos “espertos” de sempre, expondo o sistema bancário a níveis de risco sem precedentes. 
          O que parece paradoxal é a aparente calma — ou sensação de paralisia — diante de um descalabro tão gigantesco. Tão imenso na dimensão que aflora no dia-a-dia, pelo que se vê na imprensa, quanto no esforço ciclópico dos governos em remediar o que aparentemente não pode ser remediado[?]. O mais provável é que a sensação de normalidade e calma aparente esteja na reduzida percepção do foco mais agudo: o da falta de confiança que viceja no próprio sistema financeiro, que, carente de informações sobre a exposição dos bancos, não se arrisca a dar um passo sequer. Há muito em jogo, pelas somas anunciadas pelos governos nas últimas semanas, mesmo sem o conhecimento da real situação: até onde o sistema bancário se expôs. Não é provável que os governos mantenham a atitude benevolente que exibiram até agora.
          Para além de um desfecho imprevisível, ficam perguntas sem resposta. Qual será o sistema bancário remanescente? Sim, porque, a essa altura, o próprio mercado já deu o sinal de que mudanças precisam ser feitas. Possivelmente, um sistema mais concentrado e menos arrojado, distante de altos índices de alavancagem, regulado. Pode-se inferir que se formará um novo quadro de influências com um maior reconhecimento da importância das economias emergentes? Se considerarmos que o G7 detém hoje apenas 20% das reservas internacionais, enquanto as economias emergentes contam com 40%, não é de todo improvável que essas economias passem a desfrutar de um maior poder de fogo no contexto internacional.
          Enquanto isso, o que dizer do futuro próximo da conjuntura? Não parece haver dúvida de que, a permanecer o impasse da rigidez do crédito interbancário, graças à desconfiança quanto aos níveis de exposição, um desfecho inevitável será uma profunda recessão, senão uma depressão nos países ricos, atingindo-se níveis de desemprego sem precedentes nos últimos 30 anos.

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