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Aprendendo com os Erros da Campanha

A derrota de José Serra deixa algumas lições para empresas e organizações refletirem sobre seu planejamento e aperfeiçoarem sua gestão estratégica.
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Publicado em Sun Nov 14 19:31:00 UTC 2010 - Edição 632

          Uma campanha política é uma organização temporária, extremamente dinâmica e dominada por táticas, em contraponto à organização partidária, de natureza perene, voltada para o longo prazo e conduzida por estratégias. Com um objetivo bem definido de conquistar o poder, os partidos políticos vivem num ambiente marcado pelo embate de forças, interna e externamente. Na última campanha, o PSDB foi uma boa mostra desse tipo de conflito, inicialmente no ambiente interno — Serra versus Aécio —, e de como a visão estratégica do partido (ou a falta dela) permitiu táticas estranhas (populismo, aborto, aplauso ao adversário, etc.) que embaralharam o processo, evidenciando falhas de planejamento. Alguns pontos merecem reflexão:

1.    Menosprezo ou desconhecimento do adversário – Para Sun Tzu, em A Arte da Guerra, esse é um erro capital. A campanha de Serra acreditou e difundiu a ideia de que a oponente era fraca e despreparada — “um poste”. Isso até pode ser feito para animar os partidários prévios da candidatura, o eleitorado cativo, mas não serve para convencer a grande massa. Os vídeos espalhados pela internet, montados para difundir uma Dilma despreparada, ficaram inconsistentes quando começou a campanha no rádio e na TV. Dilma se beneficiou desse menosprezo. Sua desenvoltura, para quem esperava um desempenho lamentável, pegou o PSDB de surpresa, e a campanha não teve uma tática eficiente de contra-ataque.

2.    Falta de novidade – Vivemos numa era marcada pela inovação. Para quem deseja estar sintonizado com o mundo atual, é essencial criar e renovar-se sempre. Nessa campanha, a novidade foi a candidatura de uma mulher. O fato de Dilma nunca ter disputado uma eleição, apontado pela campanha opositora como uma fraqueza, terminou tendo um efeito positivo, pelo desgaste dos políticos tradicionais. Na disputa, Serra passou a ser “o velho”, principalmente porque foi fácil colá-lo a FHC, que, no imaginário popular, talvez até injustamente, não traz boas recordações.

3.    Confronto com a realidade – Realidade é para ser observada, analisada e  trabalhada, mas não confrontada. Com mais de 80% de aprovação popular, Lula não ficaria como espectador no Palácio. A campanha de Serra pretendeu, em dois meses, negar o que se consolidou durante oito anos na mente da maioria das pessoas. E, a não ser que houvesse um entendimento prévio com a Justiça Eleitoral, Lula não iria ficar calado nessa campanha. Veio a público tentar transferir a enorme popularidade e os votos para a sucessora.  

4.    Ciência da gestão – Para os governos, os conceitos da nova ciência da administração também chegaram para ficar. Dessa forma, o que vale é resultado perceptível — as pessoas veem o imediato e estão interessadas em melhorias socioeconômicas. Ideologias de esquerda e direita ficaram no passado. O importante é a percepção de se o governo trabalha para a maioria da sociedade ou para pequenos grupos. Dilma foi “marqueteada” como a grande gestora do governo Lula, e a campanha de Serra não conseguiu transmitir que ele seria um melhor gestor.

5.    Confiar em fatores externos – Aloprados e “Erenices” acontecem, mas, a não ser que sejam “cartas na manga” e sob controle, apostar em fatores externos para mudar a história de uma campanha é prova de falta de táticas próprias. Esses casos se tornaram rotineiros, infelizmente, e seria necessário um evento descomunal para mudar a visão do eleitor, já ressabiado.

           De toda sorte, a democracia requer uma oposição de qualidade. A beleza da organização democrática é dar ao povo o poder de mudar o governo quando julga que os líderes do momento não mais dão os resultados esperados. Contar com pessoas preparadas para exercer a alternância no poder é fundamental.


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