Veja por autor
Por uma gestão pública de qualidade
As estratégias dentro desse universo devem levar em consideração a realidade do órgão, de seu ambiente e dos principais clientes e suas demandas. Publicado em Sat Aug 22 12:00:00 UTC 2015 - Edição 881Auditoria realizada recentemente pelo Tribunal de Contas da União (TCU) aponta um dado preocupante: 49% dos órgãos públicos municipais, estaduais e federais do País se autoavaliam como ruins na gestão pública. O estudo abordou quatro dimensões: (1) administração de pessoal; (2) estratégias para realizar políticas públicas; (3) controle de gastos; e (4) funcionamento dos serviços prestados à população.
Hipóteses prováveis para esse resultado são o insuficiente investimento em gestão ou a aplicação de ferramentas que simplesmente não dão certo, seja porque têm o uso muito complicado ou exigente ou porque não se adéquam à realidade daquele órgão.
Hipóteses prováveis para esse resultado são o insuficiente investimento em gestão ou a aplicação de ferramentas que simplesmente não dão certo, seja porque têm o uso muito complicado ou exigente ou porque não se adéquam à realidade daquele órgão.
De todo modo, para cada uma das dimensões abordadas pela auditoria do TCU, valem alguns comentários.
Administração de pessoal requer capacidade de liderança, delegação com orientação e acompanhamento, foco no desenvolvimento das equipes e estímulo à explicitação e ao tratamento de conflitos e ao desenvolvimento da autonomia. Investimentos no desenvolvimento de lideranças, em carreiras gerenciais e sistemas de meritocracia poderiam fazer a diferença.
As estratégias para efetuação de políticas públicas requerem compreensão adequada da realidade do órgão, de seu ambiente e dos principais clientes e suas demandas. Também exigem priorização de atividades e monitoramento sistemático para sustentar e atualizar as estratégias, já que as pressões do dia a dia e da sociedade são constantes e “multidirecionais”. A atualização da missão institucional (a “razão de ser” dos órgãos) e a implantação de modelos de gestão estratégica adequados às suas realidades e possibilidades é o caminho para superar esse mal que se faz ao serviço público e aos cidadãos.
Ainda sobre a realização das políticas públicas, é preciso avançar em um campo bastante desafiador: os sistemas de avaliação de políticas, com relação ao seu impacto e à sua eficiência. Para isso, é necessário investimento: (a) na produção e sistematização de informações e indicadores; (b) na formação de especialistas na área; (c) na realização de estudos.
O controle de gastos também requer monitoramento constante e orçamentos utilizados como instrumentos de gestão, efetivamente articulados com o planejamento e não extrapolações de orçamentos passados ou peças para composição de processos legais. Isso demanda maior investimento em sua análise e na avaliação de sua consistência com o planejamento. O orçamento precisa ser uma “expressão monetária” do planejamento, senão é ficção.
A prestação de serviços de qualidade requer conhecimento do “cliente” (público-alvo), estabelecimento de canais de diálogo, obtendo feedback constante e coletando informações para manter ou corrigir os rumos da gestão. Também exige romper com o autocentrismo, voltado para as demandas internas da máquina pública, e fazer diferente, conectando-se cada vez mais com as necessidades e conveniências dos clientes.
As soluções são simples, mas, para acontecer, precisam de gestores com uma visão contemporânea da gestão pública, coragem para liderar processos de mudança e, sobretudo, compromisso e respeito com os cidadãos e com o dinheiro público, para que, nos próximos anos, possamos inverter essa avaliação tão negativa e preocupante.