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O Papel Tem um Longo Futuro
Poderá, o advento das novas Tecnologias de Informação e Comunicação, decretar o fim da era do papel? Publicado em Sun Jan 28 18:39:00 UTC 2007 - Edição 434
Arrisco uma hipótese para acreditar no futuro do papel, mas não a direi agora no início deste artigo. Antes, gostaria de lembrar alguns pontos que estão no imaginário das pessoas em face do mundo digital.
O advento das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) foi algo fantástico. O entusiasmo dos seus criadores — muitos deles, como se sabe, bastante jovens — levou a acreditar que a era do papel estaria no fim. Com certeza, eles não estão de todo enganados ou, noutras palavras, estão parcialmente certos. Como sempre ocorre com as inovações bem-sucedidas, os jovens — et pour cause! — foram os primeiros a aderir, tendentes que são a olhar o mundo sem a dura cristalização de conceitos dos mais velhos. Mas, como também se sabe, a história dos meios de comunicação igualmente nos mostra que o surgimento de um novo meio nem sempre elimina os outros, mas provoca uma espécie de rearranjo, apontando para novos e insuspeitados usos. Em alguns casos, porém, o que era útil transforma-se tão-somente em algo meramente estético e decorativo. Seria este o caso do papel? Cremos que não.
O papel e o meio digital vêm convivendo em relativa harmonia como suportes da escrita. Naturalmente, há uma novíssima influência em jogo a pressionar os papéis do papel e a remodelar, parcialmente, a própria forma de comunicação escrita. Essa influência é bem visível, por exemplo, no modo da disposição gráfica que busca imitar as vantagens dos hipertextos, desenhando links que fraturam a linearidade do modelo de imprensa gutenberguiano.
Mas, por outro lado, se uns se apressam em profetizar o fim do meio impresso, por outro, as estatísticas provam que nunca se publicou tanto nesse meio. Até porque as novas tecnologias da microeletrônica também contribuíram para avançadas e quase mágicas formas de imprimir livros, periódicos e similares. Onde está a verdade? Parece-nos, usando o bom senso, que em nenhum dos extremos. Se, num exercício de imaginação às avessas, quisermos apontar uma tecnologia wireless (sem fio) de grande conforto, daremos de cara com o papel, com a vantagem sobressalente de não dar pane. A pane — alguns estudiosos já o perceberam — é, e sempre será, o calcanhar de Aquiles de qualquer máquina, não o de qualquer tecnologia.
Como anunciei no início, lanço a hipótese para a longa sobrevivência do papel em companhia do mundo digital. Ele sobreviverá por sua materialidade, já que a "materialidade" do virtual está como que conectada à dependência das máquinas. Estas são uma espécie de intermediários... Mas, adianto, nesta hipótese, que não defendo qualquer fetichização da materialidade por si mesma. O que ocorre é que a materialidade está intimamente ligada —para não dizer ontologicamente constituída — ao sentido do tato. Este, mais do que a visão, é o sentido que constitui o real. É o tato que nos comunica, de forma imediata, ao mundo como ser descolado de nossa própria autoconsciência. É do corpo e das mãos (sem falar numa possível antropologia da pele) que vem a sensação de realidade. E, assim, é nesse sentido que o papel, em sua materialidade, continuará soberano como algo no qual se inscreve, no qual se marca a escrita no seu sentido etimológico e ontológico.
A rigor, no virtual, não há uma escrita, mas feixes de luz e energia. Sonhar com um mundo sem papel — ainda que essa luz das TICs tenha vindo, em boa hora, substituir uma papelada supérflua — é minimizar o tato, atrofiando o sentido do humano em sua resistência ou aderência ao mundo. Além disso, não custa lembrar que o virtual só pode se definir pelo real, que, no fundo, é igualmente fantástico.
A vitalidade do papel também está na ordem do dia do ponto de vista tecnológico. Duas recentes criações o atestam: o papel que apaga a impressão em 24 horas, criado pela Xerox, e o papel que age "digitalmente" como suporte para códigos que, uma vez escaneados, transportam para o computador as informações. Viva o papel!
O advento das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) foi algo fantástico. O entusiasmo dos seus criadores — muitos deles, como se sabe, bastante jovens — levou a acreditar que a era do papel estaria no fim. Com certeza, eles não estão de todo enganados ou, noutras palavras, estão parcialmente certos. Como sempre ocorre com as inovações bem-sucedidas, os jovens — et pour cause! — foram os primeiros a aderir, tendentes que são a olhar o mundo sem a dura cristalização de conceitos dos mais velhos. Mas, como também se sabe, a história dos meios de comunicação igualmente nos mostra que o surgimento de um novo meio nem sempre elimina os outros, mas provoca uma espécie de rearranjo, apontando para novos e insuspeitados usos. Em alguns casos, porém, o que era útil transforma-se tão-somente em algo meramente estético e decorativo. Seria este o caso do papel? Cremos que não.
O papel e o meio digital vêm convivendo em relativa harmonia como suportes da escrita. Naturalmente, há uma novíssima influência em jogo a pressionar os papéis do papel e a remodelar, parcialmente, a própria forma de comunicação escrita. Essa influência é bem visível, por exemplo, no modo da disposição gráfica que busca imitar as vantagens dos hipertextos, desenhando links que fraturam a linearidade do modelo de imprensa gutenberguiano.
Mas, por outro lado, se uns se apressam em profetizar o fim do meio impresso, por outro, as estatísticas provam que nunca se publicou tanto nesse meio. Até porque as novas tecnologias da microeletrônica também contribuíram para avançadas e quase mágicas formas de imprimir livros, periódicos e similares. Onde está a verdade? Parece-nos, usando o bom senso, que em nenhum dos extremos. Se, num exercício de imaginação às avessas, quisermos apontar uma tecnologia wireless (sem fio) de grande conforto, daremos de cara com o papel, com a vantagem sobressalente de não dar pane. A pane — alguns estudiosos já o perceberam — é, e sempre será, o calcanhar de Aquiles de qualquer máquina, não o de qualquer tecnologia.
Como anunciei no início, lanço a hipótese para a longa sobrevivência do papel em companhia do mundo digital. Ele sobreviverá por sua materialidade, já que a "materialidade" do virtual está como que conectada à dependência das máquinas. Estas são uma espécie de intermediários... Mas, adianto, nesta hipótese, que não defendo qualquer fetichização da materialidade por si mesma. O que ocorre é que a materialidade está intimamente ligada —para não dizer ontologicamente constituída — ao sentido do tato. Este, mais do que a visão, é o sentido que constitui o real. É o tato que nos comunica, de forma imediata, ao mundo como ser descolado de nossa própria autoconsciência. É do corpo e das mãos (sem falar numa possível antropologia da pele) que vem a sensação de realidade. E, assim, é nesse sentido que o papel, em sua materialidade, continuará soberano como algo no qual se inscreve, no qual se marca a escrita no seu sentido etimológico e ontológico.
A rigor, no virtual, não há uma escrita, mas feixes de luz e energia. Sonhar com um mundo sem papel — ainda que essa luz das TICs tenha vindo, em boa hora, substituir uma papelada supérflua — é minimizar o tato, atrofiando o sentido do humano em sua resistência ou aderência ao mundo. Além disso, não custa lembrar que o virtual só pode se definir pelo real, que, no fundo, é igualmente fantástico.
A vitalidade do papel também está na ordem do dia do ponto de vista tecnológico. Duas recentes criações o atestam: o papel que apaga a impressão em 24 horas, criado pela Xerox, e o papel que age "digitalmente" como suporte para códigos que, uma vez escaneados, transportam para o computador as informações. Viva o papel!